No passado dia 5 de Novembro, e tendo como pano de fundo o
artigo de opinião “O RBI pode matar o Estado Social” saído da pena de Paulo
Tavares, na sequência da entrevista feita a Philippe van Parijs pelo Dirário de
Notícias, o jornal Observador publicou um artigo de Gonçalo Marcelo e Roberto Merrill, o qual merece um conjunto de esclarecimentos adicional, para além dos
que podem ser encontrados no artigo de Tavares e na própria entrevista a Van Parijs. Foquemo-nos no caso
português.
Além da desigualdade na distribuição da riqueza avantajada,
Portugal no 25 de Abril conquistou o Serviço Nacional de Saúde e a massificação
do acesso à escola pública. Foram enganadoras tentativas de ludibriar os Portugueses.
O que permitiu a uma dada e pequena elite a manutenção ou a implementação do Estado
Social. Discutam-se ou não questões como a da sustentabilidade da Segurança
Social, a verdade é que uma reformulação radical do Estado Social que implicou
a retirada maciça do Estado nos domínios da saúde e da educação é simplesmente uma
realidade. Embora a provisão pública destes bens goze de uma utópica, mas
apaixonante protecção constitucional. Apesar de o nosso Estado Social, à
semelhança dos seus congéneres do sul da Europa, ser relativamente recente e
relativamente pouco generoso, sobretudo se comparado com modelos como o
nórdico, a verdade é que a forte protecção legal das direitas existentes torna
de facto impossíveis (e, acrescente-se, por pior que isto seja) muitas opções
de políticas públicas que poderiam eventualmente resultar na efectivação desses
direitos, tal como o actual governo está a aprender com o anterior.
Neste contexto, o RBI permitiria uma maior segurança
económica de todos os portugueses e, claro, seria esteticamente justificado
também pela emancipação que promoveria, ao providenciar às pessoas uma
transição mais fácil entre a entrada ou saída do mercado das artes ou permitir
que mais pessoas trabalhassem por verdadeira vocação e recusassem os empregos
que consideram indignos. Para além disso, eliminaria grande parte da burocracia
associada à atribuição de prestações condicionais, dependentes de condições de
recursos ou com obrigatoriedade de inserção no mercado de trabalho e que, na
prática, muitas vezes são estigmatizantes ou indesejáveis pelo elemento de
coerção que comportam.
Por conseguinte, como é fácil de ver, no RBI como no resto,
o diabo está nos detalhes e nas heranças capitalizadas. Onde raio se ia
arranjar um modelo de financiamento? É claro que com a verdadeira vocação dos varredores
do lixo e dos trabalhadores da construção civil, bem como com a socrática simplificação
burocrática seria possível orçamentar tais verbas, bastanto para tanto taxar os
seus salários indignos.
Comentários
Enviar um comentário
Os comentários são da responsabilidade exclusiva dos seus autores. O Filisteu não assume responsabilidade pelos comentários dos utilizadores.